História Explicada – História e Atualdiades https://historiaeatualidades.com.br Com o prof. Richard Abreu Sat, 14 Oct 2023 20:19:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Quem foi Ernesto ‘Che’ Guevara? https://historiaeatualidades.com.br/2023/10/14/quem-foi-ernesto-che-guevara/ https://historiaeatualidades.com.br/2023/10/14/quem-foi-ernesto-che-guevara/#respond Sat, 14 Oct 2023 20:19:52 +0000 https://historiaeatualidades.com.br/?p=16778 Ernesto “Che” Guevara foi um revolucionário argentino, que ganhou grande destaque a partir da Revolução Cubana, que culminou com a ascensão de Fidel Castro ao poder em 1959. Che Guevara, como ficou conhecido, nasceu em 14 de junho de 1928 e foi executado em 9 de outubro de 1967, na Bolívia. Ele desempenhou um papel fundamental na luta guerrilheira em Cuba, onde atuou como comandante na Sierra Maestra. Após a vitória revolucionária, desempenhou várias funções no governo cubano, incluindo a liderança do Banco Nacional de Cuba e do Ministério da Indústria.

Che Guevara

Che Guevara tornou-se uma figura internacionalmente conhecida e influente na promoção do comunismo e do marxismo na América Latina e em outras partes do mundo. Che acreditava na necessidade de espalhar a revolução comunista globalmente e esteve envolvido em atividades revolucionárias em diferentes países, como o Congo e a Bolívia.

Che Guevara é frequentemente lembrado por sua imagem icônica, capturada em uma fotografia de 1960 feita por Alberto Korda. A fotografia de Che tornou um símbolo do idealismo revolucionário e é amplamente reproduzida em pôsteres e camisetas. Che, porém, é também uma figura controversa. Críticos apontam para violações dos direitos humanos durante seu tempo no poder em Cuba e em outras áreas de sua atuação. O guerrilheiro foi capturado e executado na Bolívia em 1967, encerrando sua vida curta, mas deixou legado como um dos líderes revolucionários mais conhecidos do século XX.

Che Guevara e a Revolução Cubana

Durante a Revolução Cubana, Che Guevara atuou como um dos principais comandantes das forças rebeldes na Sierra Maestra, uma região montanhosa de Cuba, onde as forças revolucionárias se refugiaram e organizaram suas operações. Ele ganhou respeito como líder militar por suas habilidades táticas na luta contra as forças do governo de Fulgencio Batista.

Che foi um fervoroso defensor do marxismo-leninismo e desempenhou um papel fundamental na articulação da ideologia revolucionária que impulsionou a luta em Cuba. Sua convicção e retórica em prol da justiça social e da igualdade atraíram muitos seguidores e contribuíram para a união ideológica das forças revolucionárias. Suas táticas eram baseadas em uma abordagem focada em guerrilha, que envolvia a mobilização de pequenas unidades rebeldes em áreas rurais e montanhosas. Essa estratégia desestabilizou as forças do governo e ganhou apoio popular.

Após a vitória da revolução em 1959, Che Guevara desempenhou um papel ativo no governo cubano. Ocupou várias posições, incluindo a liderança do Banco Nacional de Cuba e foi ministro da Indústria. Além disso, desempenhou papel crucial na implementação de reformas econômicas e sociais, incluindo a nacionalização de indústrias e a redistribuição de terras.

Discurso na Assembleia das Nações Unidas

Em 11 de dezembro de 1964, Che Guevara fez um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, representando o governo cubano. Em seu discurso, Guevara condenou o imperialismo e a política externa norte-americana e também expressou seu apoio a movimentos revolucionários em várias partes do mundo. O discurso de Che Guevara na ONU é conhecido por suas fortes críticas aos Estados Unidos e reafirmação de seu compromisso com a causa revolucionária no mundo.

Che Guevara no Congo, África

Em 1965, já após a bem sucedida incursão em Cuba, Che Guevara, partiu para o Congo (então chamado de República Democrática do Congo), na África, para dar continuidade ao seu expansionismo revolucionário. No Congo, Guevara se juntou a um grupo de rebeldes com o objetivo de derrubar o governo do primeiro-ministro Moïse Tshombe, que tinha o apoio dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais. No entanto, a missão no Congo foi marcada por reveses, dificuldades logísticas e falta de apoio popular. A presença de Guevara não conseguiu unificar as facções rebeldes ou alcançar o sucesso desejado.

Guevara e seus seguidores logo se viram em uma situação precária, enfrentando ataques do exército do governo e lutando para manter a coesão interna. Em meados de 1965, Che Guevara e o grupo de guerrilheiros cubanos que o acompanhavam decidiram deixar o Congo, encerrando sua tentativa de promover uma revolução no país.

Apesar de sua derrota no Congo, Che continuou sua busca por oportunidades revolucionárias em outros lugares, e sua próxima aventura foi na Bolívia, para onde partiu em 1966, iniciando suas atividades de guerrilha em 1967.

Che Guevara na Bolívia, último ato

Em 1967, Che Guevara liderou um grupo de guerrilheiros com o objetivo de iniciar a revolução na Bolívia. Em 8 de outubro de 1967, Che Guevara foi capturado pelo exército boliviano e pela CIA, após ter sido ferido em combate. No dia seguinte, 9 de outubro, ele foi executado, encerrando sua tentativa de fazer a revolução na Bolívia.

Sua captura e morte marcaram o fim de sua carreira como revolucionário itinerante e a derrota final para suas aspirações de promover revoluções comunistas em outros países da América Latina e no mundo. A morte de Che Guevara na Bolívia consolidou sua figura como um mártir e ícone da esquerda revolucionária em todo o mundo, mesmo que a tentativa de revolução na Bolívia tenha sido malsucedida.

Filmes e Documentários sobre Che

Che Guevara, além do mito

França – 2017 – 52 min

De Tencrede Ramonet • Com Salim Lamrani, Marie-Alice Waters, Jon Lee Anderson, Pierre Kalfon, Julio Cesar Gaunche, Michael Lowy

Apesar de sua conhecida importância revolucionária, o surgimento do mito Che Guevara foi também uma construção. Ao longo de sua vida, o guerrilheiro, que era também escritor, fotógrafo e cinéfilo, se preocupou em construir uma autoimagem de impacto para se sacralizar na história. Esse documentário busca ultrapassar o símbolo de barba, boina e charuto e mostrar quem era o homem por trás do mito.

Onde assistir: canal Curta!

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Paleolítico e Neolítico, os períodos pré-históricos. https://historiaeatualidades.com.br/2022/09/10/o-homem-e-seus-ancestrais-a-historia-da-humanidade-antes-da-invencao-da-escrita/ https://historiaeatualidades.com.br/2022/09/10/o-homem-e-seus-ancestrais-a-historia-da-humanidade-antes-da-invencao-da-escrita/#respond Sat, 10 Sep 2022 11:24:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=13958 De acordo com as descobertas científicas, os primeiros hominídeos tiveram origem aproximadamente entre sete e quatro milhões de anos atrás. Estas descobertas apontam que sua origem comum está na África, onde foram encontrados os fósseis mais antigos dos ancestrais humanos, como por exemplo, o Australopithecus Africanus. A partir deste ponto de vista, podemos afirmar que o homem moderno (homo sapiens) – isto é, nós – somos frutos de um longo processo de evolução que, por meio da seleção natural das espécies, foi passando por lentas transformações até chegar ao que é hoje.

Assim, ao olharmos para trás, vemos uma longa história da humanidade, da qual, muitas vezes, nos escapam detalhes. Mas, por meio do trabalho de ciências auxiliares à História, como a Arqueologia e a Paleontologia, podemos conhecer e descobrir muitas coisas sobre nossos ancestrais. Ao estudarem os fósseis e outros registros deixados pelo homem, como utensílios de caça, pinturas rupestres, entre outros, os cientistas chegam a conclusões, mais ou menos precisas, de como viviam e se comportavam nossos parentes primitivos.

Essa longa história da humanidade, que se situa antes do homem desenvolver a escrita e se organizar em sociedades complexas, como as que conhecemos hoje e as que surgiram em tempos mais remotos, normalmente é conhecida como pré-história. Ou seja, a história do homem antes da invenção da escrita. E esse período é dividido, para sua melhor compreensão, em duas fases que os historiadores chamam de Paleolítico e Neolítico. Vamos entender um pouco mais sobre estes períodos.

Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada

Chamado assim, de Idade da Pedra Lascada, porque foi durante este período que o homem começou a usar a pedra como ferramenta. Nesta época, nossos ancestrais ainda não dominavam técnicas eficientes para talhar a pedra, mas já utilizam instrumentos rudimentares de lascas de pedras, que colhiam espontaneamente na natureza ou fabricavam sem muita técnica. Estes instrumentos os auxiliavam, por exemplo, na caça ou como proteção contra outros animais. Foi também durante o Paleolítico que o homem começou a dominar o fogo. A princípio surgido naturalmente de descargas elétricas que incendiavam a vegetação seca, o fogo passou, pouco a pouco, a fazer parte dos artefatos humanos. A partir da fricção de pedaços de madeiras, o homem descobriu como criar o fogo e passou a utilizá-lo para diversos fins, como para se aquecer e espantar predadores. Com o tempo, e o domínio pleno do fogo, começou também a cozinhar os próprios alimentos.

Este longo período da história humana se estende de aproximadamente quatro milhões de anos, quando homem ainda era um hominídeo, recém surgido, a aproximadamente 10.000 anos antes de Cristo. Neste momento, algo muito importante aconteceu no processo evolutivo da humanidade. De caçadores-coletores, o homem passou a dominar técnicas de produção de alimentos que permitiram a sua sedentarização, ou seja, a sua fixação em um determinado lugar. Com o advento da agricultura, o homem pode finalmente fixar a sua localização e não precisava mais vagar por longas distâncias em busca de alimentos. Era o início do período Neolítico, do que vamos falar agora.

Neolítico, ou Idade da Pedra Polida

Por volta de 10.000 ou 9.000 anos antes de Cristo, o modo de vida do homem primitivo passou por transformações tão significativas, que os historiadores costumam tratá-las por Revolução Neolítica. Diferentemente da época da pedra lascada, agora o homem havia aprendido a polir a pedra, de forma a transformá-la em instrumentos ainda mais eficazes. Por isso, o Neolítico, é também conhecido como Idade da Pedra Polida.

Como vimos anteriormente, foi nessa época que o homem passou a se sedentarizar, ou seja, fixar a sua localização em determinados lugares, que muito tempo depois, dariam origem às grandes cidades e civilizações. Com o domínio da agricultura, o homem passou a produzir o seu próprio alimento. Assim, não dependia mais de longas caminhadas para caçar ou coletar comida. Uma vez fixado em um lugar, passou a construir habitações rudimentares que os protegiam de animais maiores. Foi durante este período que o homem inventou a roda e também aprendeu a construir pequenas embarcações que o ajudavam no transporte e locomoção. No final do Neolítico, o homem já possui pleno domínio do bronze, que adquiria por meio da fusão do cobre e do estanho e também dominava a cerâmica. Dessa forma, conseguia confeccionar armas mais eficientes e utensílios que se tornavam úteis para uma vida sedentária.
Por volta de aproximadamente 4.000 anos a.C, o homem já estava bastante adaptado a uma vida em sociedade. Havia formado tribos e a organização social tornava-se cada vez mais complexa, o que impunha novas formas de se relacionar e produzir socialmente. Uma das consequências da vida em sociedade, foi o surgimento da escrita, como forma de fixar leis e aprimorar a contabilidade. Assim, surgiram as primeiras civilizações da antiguidade, como a Civilização Egípcia e a Mesopotâmica, que se formaram, respectivamente, às margens do rio Nilo (Egípcios) e dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmicos).

Conclusão

A partir do conhecimento científico, podemos inferir que o homem é originado de um longo processo evolutivo, tal qual, todas as outras espécies que habitam o planeta. Embora tenham surgido várias espécies de hominídeos, todas derivaram de um ancestral comum, e a que prevaleceu sobre as demais, foi dos homo sapiens, que é a linhagem do homem moderno. Para melhor compreender e explicar a longa história humana, os historiadores dividem a história em longos períodos, de acordo com as características que predominaram em cada um. Assim, a história humana antes da invenção da escrita, o pré-história, é dividida em dois períodos principais: o Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada; e o Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Polida. Neste último período, o homem começou a desenvolver a agricultura. Isso possibilitou que ele pudesse se fixar em um lugar e abandonar a condição de nômade. Com a sedentarização do homem, as organizações se tornaram cada vez mais complexas e originaram as primeiras grandes civilizações da antiguidade.

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O que foi a União Soviética ou União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/29/o-que-foi-a-urss-uniao-sovietica-ou-uniao-das-republicas-socialistas-sovieticas/ https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/29/o-que-foi-a-urss-uniao-sovietica-ou-uniao-das-republicas-socialistas-sovieticas/#respond Mon, 29 Aug 2022 11:00:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=13863 A União da das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou União Soviética, também referida pela sigla URSS, originou-se da união de diversos países do leste europeu em torno da Rússia, formando um grande e único país, de orientação comunista. A URSS foi formada em 1922, cinco anos após a Revolução Russa, ainda sob a liderança de Vladimir Lênin. A partir de então, expandiu suas fronteiras em direção à Europa, formando um conglomerado de 15 países, com pelo menos cem etnias diferentes e duzentos idiomas.

Como se formou a União Soviética?

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, a Rússia foi abalada por uma revolução social, liderada pelo Partido Operário Social Democrata Russo (POSDER). Vitoriosos na revolução, o POSDER dividiu-se em dois grupos, os Bolcheviques, que constituíam a maioria, e os Mencheviques, em menor número. Instalados no poder, esses grupos entraram em conflito, dando origem a uma guerra civil na Rússia que durou de 1918 à 1921. Com a vitória dos Bolcheviques, liderados por Lênin, consolidou-se a Revolução Russa e no Congresso dos Sovietes, realizado em 30 de dezembro de 1922, foi formalizada a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que incluía quatro ex-repúblicas do Império Russo: a própria Rússia mais a Ucrânia, a Bielo-Rússia e a Transcaucásia, que incluía a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia.

Quais países faziam parte da União Soviética?

Mapa da União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS)
  1. Armênia
  2. Azerbaijão
  3. Bielorrússia
  4. Estônia
  5. Georgia
  1. Cazaquistão
  2. Quirguistão
  3. Letônia
  4. Lituânia
  5. Moldova
  1. Rússia
  2. Tajiquistão
  3. Turcomenistão
  4. Ucrânia
  5. Uzbequistão

Líderes soviéticos

Ao longo de sua existência, a União Soviética teve sete líderes. Vladimir Lenin (1917-1924), arquiteto da Revolução Russa, que depôs o Czar e instaurou a República Russa, sob a égide do Comunismo, morreu dois anos após a formação da URSS. Seu sucessor foi Josef Stalin (1924-1953), que governou por quase 30 anos, consolidou e ampliou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e implementou, com mãos de ferro, profundas reformas, sociais e econômicas no país. Foi durante o governo de Stalin que a URSS enfrentou e venceu os alemães na Segunda Guerra Mundial. Ainda em seu governo, após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se o período conhecido como Guerra Fria, caracterizado por uma forte polarização, política, ideológica e militar com o ocidente capitalista.

Stalin foi sucedido por Nikita Kruschev (1953-1964), que governou por onze anos, e por Leonid Brejnev (1964-1982), cujo governo durou oito anos, após o que, assumiram Yuri Andropov (1982-1984) e Konstantin Chernenko (1984-1985), ambos com mandatos curtos de dois e um anos, respectivamente, até o início do último governante soviético, Mikhail Gorbachev (1985-1991), que deu início à abertura política e econômica do país e foi deposto por um golpe em 1991, que desmanchou a URSS e empossou Boris Iéltsin como presidente russo.

Fim da União Soviética

Em 1985 Mikhail Gorbachev assumiu a liderança do Partido Comunista Soviético e pôs em curso o seu plano de reformas, que ficaram conhecidas como Perestroika (reconstrução) e Glasnost (transparência). Tais reformas tinham por objetivo reestruturar o poder econômico e político do país em função do desgaste que o modelo comunista vivenciava, sobretudo, frente aos avanços tecnológicos e sociais que o ocidente, capitalista, apresentava. Gorbachev enfrentou forte resistência da ala política e ideológica que defendia a permanência do regime, ao passo que era pressionado, também, por aqueles que defendiam a abertura política e econômica da União Soviética. Em agosto de 1991 sofreu uma tentativa de golpe, foi preso, mas posto em liberdade após forte onde de protestos sociais e renunciou ao cargo de secretário geral do Partido Comunista, abrindo espaço para que Boris Yeltsin concluísse o processo de abertura política, conduzindo a dissolução da União das Republicas Socialistas Soviéticas, que desintegrou-se em pouco tempo, sob os auspícios da Queda do Muro de Berlim.

Após a dissolução, os países integrantes do bloco formaram a Comunidade do Estados Independentes (CEI) e, posteriormente, muitos deles aderiram à União Europeia e à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

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Ramapithecus: o primeiro ancestral do homem? https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/21/ramapithecus-o-primeiro-ancestral-do-homem/ https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/21/ramapithecus-o-primeiro-ancestral-do-homem/#respond Sun, 21 Aug 2022 11:00:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=10224 Ramapithecus e nossas origens

Hoje é indiscutível que os primeiros ancestrais do homem surgiram na África, em um tempo absurdamente longo, do qual só podemos fazer especulações, sem conclusões exatas. De acordo com as pesquisas mais recentes, o primeiro ancestral humano e o mais longínquo de nossos parentes, viveu há 12 milhões de anos. Trata-se do Ramapithecus, um primata distante no tempo e mais distante ainda em características, considerando o que somos hoje. A este respeito, nos fala o ilustríssimo historiador brasileiro, Jaime Pinsky, em seu livro As primeiras civilizações, editora Contexto:

“Atualmente se acredita que há cerca de 12 milhões de anos, viviam em diferentes regiões da Europa, Ásia e África pequenos macacos — de não mais de um metro de altura — cujo desenvolvimento teve importante significado com relação ao homem” (PINSKY, 2001, p.19)

Deduz-se das palavras de Pinsky, que o Ramapithecus não era um homem propriamente dito. Entre ele e nós há uma gigantesca distância, mas é o que de mais próximo a ciência chegou ao tentar encontrar um tronco comum para o surgimento da humanidade. Por esta ótica, o Ramapithecus teria sofrido um longo processo de adaptação, até adquirir a habilidade de andar de forma ereta, tornando-se bípede, originando daí outras espécies, conforme veremos adiante.

Do Ramapithecus ao Homo sapiens sapiens

Adotando o Ramaphitecus como uma premissa possível, poderíamos aceitar, então, que entre 5 ou 6 milhões de anos atrás, três raças humanas surgiram da linhagem deste primata. Foram elas: o Homo habilis, o Australophitecus boisei, e o Australophitecus africanus. Destes dois últimos nada se sabe a não ser que foram extintos, possivelmente fragilizados por bruscas alterações climáticas. Mas quanto ao Homo habilis é sabido, pelos meios científicos, que viria a se desdobrar em outra espécie originando o Homo erectus, entre 1 e 2 milhões de anos atrás.

A partir do Homo erectus, a coisa começa a dizer mais propriamente sobre o que somos hoje. Do Homo erectus descendeu o Homo sapiens neanderthalensis, entre 250 e 100 mil anos; e, contemporâneo a este, o Homo sapiens. É deste que descente o homem moderno, este que somos hoje e chamamos de Homo sapiens sapiens.

Se pudéssemos considerar que todo este processo tenha ocorrido em uma escala evolutiva linear, o que talvez não seja verdade, teríamos uma linha mais ou menos assim:

Escala evolutiva

  • 1º Ramapithecus (12 milhões de anos)
    • 2º Australophitecus africanus (6 milhões de anos)
    • 2º Australophitecus boesei (6 milhões de anos)
    • 2º Homo habilis (6 milhões de anos)
      • 3º Homo erectus (2 milhões de anos)
        • 4º Homo sapiens neanderthalensis (250 e 100 mil anos)
        • 4º Homo sapiens (250 e 100 mil anos)
          • 5º Homo sapiens sapiens (de 100 mil anos para cá)
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O que foi a invasão dos povos germânicos? https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/17/invasao-dos-povos-germanicos/ Wed, 17 Aug 2022 11:00:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=9661 No século V d.C., Roma ainda era o maior e mais poderoso império do mundo, mas uma série de fatores o levaram à ruina em uma fração de tempo relativamente curta. Na verdade, historiadores divergem sobre essa questão. Uns acreditam que o Império ruiu vagarosamente, outros, acreditam que foi vítima de um processo acelerado que o fulminou em pouco tempo. Mas o que é indiscutível nessa história, é que uma das causas mais significativas para a queda do Império Romano do Ocidente, foi a invasão dos povos germânicos. Mas o que foram essas invasões e por que foram tão relevantes? É o que tentaremos explicar neste post. Siga adiante e vamos aprender um poucos sobre isso.

O que vamos aprender sobre a invasão dos povos germânicos:

  • Entender o que foi a invasão dos povos germânicos
  • Entender quem eram os povos germânicos e suas rotas de entrada no Império Romano
  • Compreender a relação entre as invasões germânicas e a queda do Império Romano

O que foi a invasão dos povos germânicos?

Chamamos de invasões germânicas, ou invasão dos povos bárbaros, o processo de entrada nos domínios do Império Romano, de povos que até então viviam às margens de suas fronteiras. Esse processo foi gradual, até culminar, na segunda metade do século V, na deposição do imperador Rômulo Augusto por Odoacro, no ano de 476 d.C. A este evento, nos referimos como “queda do Império Romano do Ocidente“, e para o qual as invasões germânicas contribuíram enormemente.

Com o fim do Império, a parte ocidental da Europa passou por um profundo processo de transformação, que alterou estruturalmente a sua organização política, econômica e social, principalmente, a partir da fusão das culturas romanas e germânicas. Como marco histórico, a queda do Império Romano do Ocidente marca o fim da Antiguidade Clássica e o início da Idade Média. A seguir, vamos compreender um pouco melhor sobre quem eram os povos germânicos e saber mais sobre as causas que levaram às invasões ao Império.

Quem eram os povos germânicos?

Os povos germânicos eram formados por tribos de diversas etnias que possuíam um tronco comum e vivam às margens das fronteiras do Império Romano, na região chamada de Germânia, situada ao norte do rio Danúbio e a leste do rio Reno, que formavam as fronteiras naturais do Império. Os principais povos germânicos eram os Lombardos, os Vândalos, os Godos, os Saxões, os Burgúndios e os Francos. Eram chamados de “bárbaros”, pois assim os romanos se referiam a todos os povos que não falavam o Latim e nem assimilavam os valores culturais romanos. Por isso, é comum nos referirmos a esses povos, ainda hoje, como bárbaros, e também falamos, corriqueiramente, em invasões bárbaras, quando nos referimos ao movimento migratório dos povos germânicos em direção às terras do Império Romano.

Nem sempre bárbaros e romanos viveram em conflito. Na verdade, a convivência entre os dois povos transcorreu, ao longo da história, de forma parcialmente pacífica, havendo entre eles uma frequente troca cultural. Isso permitiu, inclusive, que bárbaros tomassem parte da vida cotidiana do Império. Nas regiões de fronteira era comum o casamento entre famílias romanas e germânicas e, muitas vezes, os bárbaros eram recrutados para servir nas legiões romanas e até mesmo como soldados da guarda imperial, em reconhecimento aos seus inegáveis valores militares.

Os germanos viviam em um sistema tribal, com células menores que formavam grandes aldeias. Essas aldeias, por sua vez, eram formadas por grupos de várias famílias. Possuíam hábitos de vida bastante primitivos em relação ao que ostentavam os romanos e tinham um código de ética próprio, tanto para a guerra, quanto para questões do cotidiano. Em seu processo de formação, estabeleceram diversas confederações entre as tribos e instituíram líderes, que assumiam também prerrogativas de chefes militares. Esses chefes, inicialmente, eram escolhidos em assembleias que escolhiam seus líderes entre aqueles que demonstravam maior bravura militar. Com tempo, no entanto, o poder de chefia passou a ser transmitido de forma hereditária, costume que se fixou, dando origem a verdadeiras dinastias reais.

As invasões e a queda do Império

Na ocasião das invasões bárbaras, o Império Romano já estava bastante debilitado e apresentava flagrantes sinais de declínio, motivado por diversos fatores, que refletia na evidente fraqueza de seu poderio militar. O Império corroía por dentro e a frequente onda de invasões por povos estrangeiros a partir dos séculos IV e V, foi apenas o golpe final que o levou à derrocada de Roma.

As causas da invasões são pouco precisas e em alguns aspectos, parecem denotar um processo natural motivado pelo gradual enfraquecimento do Império, frente ao desenvolvido das tribos germânicas que cresciam ao seu redor. Um fator, no entanto, decisivo para a pressão sobre as fronteiras romanas, a partir do século IV, foi o descolamento dos povos hunos, em direção ao oeste da Ásia. Os hunos eram um povo de origem guerreira, que faziam uso de técnicas de guerra extremamente agressivas. Em algum momento entre os séculos IV e V, seu deslocamento em direção às terras da Germânia, fez com que as tribos e povos que ali viviam, precipitassem-se sobre o Império, em busca de refúgio contra a ferocidade huna. Isso provocou um forte ingresso dos bárbaros nas fronteiras do Império, abrindo caminho para Roma, que passou a sofrer sucessivas ondas de saques e devastação.

Após a queda do Império, os povos germânicos herdaram e absorveram diversos elementos da cultura romana, o que deu o caráter sociocultural da Europa Feudal no primeiro período da Idade Média, chamado de Alta Idade Média (séculos V ao X).

No mapa a seguir, é possível identificar o movimento dos povos germânicos entres os séculos IV e V sob os domínios territoriais do Império:

Mapa – Invasões Germânicas

Conclusão

Espero, com este breve resumo, tê-lo ajudado a compreender um pouco melhor o processo de invasões bárbaras ao Império Romano, nos século IV e V d.C. Vale lembrar que as invasões germânicas foram apenas um dos muitos fatores que levaram a queda do Império Romano. Vários outros concorreram para o fim do Império. Mas este será assunto para nossas próximas publicações.

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O que é Pré-história? Uma história sem história? https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/09/o-que-e-pre-historia/ https://historiaeatualidades.com.br/2022/08/09/o-que-e-pre-historia/#respond Tue, 09 Aug 2022 11:00:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=10535 O período que denominamos de “pré-história” é significativamente maior, em extensão de tempo, do que aquele que nos habituamos a chamar de “história”. Habitualmente, nos referimos à “pré-história”, como todo aquele período do passado humano de antes da invenção da escrita. Para fins didáticos, isso não está de todo errado. Mas por essa ótica, considerando que a escrita foi inventada pelos sumérios, na Mesopotâmia, por volta de 4.500 a.C, e isso se tornou marco para a tradicional divisão do passado humano em “pré-história” e “história”, teríamos, assim, apenas uma ínfima parte de nosso passado relatada por documentos escritos.

Essa concepção bipartida da história da humanidade surgiu entre os primeiros historiadores modernos, no século XIX, devido à primazia que os documentos escritos e oficias ganharam sobre as demais fontes históricas. Hoje, porém, com a multiplicidade de métodos e fontes disponíveis para se estudar o passado humano, podemos reconstituir, narrar e explicar fatos e aspectos da vida cotidiana do homem desde muito tempo antes destes terem feito qualquer registro escrito de suas vidas. Talvez, por isso, já não faça mais sentido nos referirmos a este importante período da história da humanidade como pré-história. Porém, esta ainda é a denominação comum, sobretudo, para classificação cronológica da história humana, o que faz com que algumas vezes, tenhamos que recorrer a ela quando queremos nos referir à história do homem em toda a sua extensão.

Ainda estamos na pré-história?

Como vimos anteriormente, o marco temporal que assinala o fim da pré-história é a invenção da escrita. Mas, afirmação assim, tão categórica, acarreta alguns inconvenientes. O primeiro deles é que devemos nos perguntar: a pré-história realmente chegou ao fim? É sabido que séculos, e mesmo milênios depois da invenção da escrita cuneiforme pelos sumérios, civilizações inteiras viveram sem possuir um sistema de escrita formal. E um bom exemplo disso são os incas, uma civilização andina, que apesar de ter se organizado em uma sociedade altamente complexa, com sistema político e social plenamente desenvolvido para os tempos antigos, feneceu sem deixar um sistema de escrita propriamente dito. O mais próximo que os incas chegaram a isso, foi um complexo sistema de contabilidade, baseado em quipus, que era um método de fazer cálculos dando nós em cordas. Logo, pela lógica que explanamos acima, se a história começa com a invenção da escrita pelos sumérios, e os incas viveram pelo menos três milênios depois destes, seria correto afirmar que a humanidade, até então, não havia saído da pré-história?!

Quipu Inca. Pesquisas recentes apontam que os Quipus também tinha função de registrar históricas e cantos da cultura incaica. Foto: Museu Nacional.
Quipu Inca. Pesquisas recentes apontam que os Quipus também tinha função de registrar históricas e cantos da cultura incaica. Foto: Museu Nacional.

A resposta para esse pequeno paradoxo é que, atualmente, não é mais possível analisar a história da humanidade apenas por uma perspectiva cronológica, ou síncrona de fatos, eventos, ou por um prisma meramente evolucionista. Mesmo hoje é possível que hajam sociedades inteiras vivenciando sua fase primitiva, sem domínio pleno de formas de escrita. E disso, podemos tirar algumas lições: os períodos convencionais, que dividem a história, são apenas marcos temporais, criados deliberadamente por historiadores, conforme suas perspectivas de mundo.

Assim, podemos concluir que ao dividir o tempo histórico em “pré-história” e “história”, os historiadores que o fizeram, fizeram a partir de suas próprias perspectivas da história da humanidade. Ou seja, a partir de seu tempo, de seu contexto e de sua concepção de mundo. No caso, estamos nos referimos aos historiadores europeus, do século XIX, quando a História estava nascendo como uma ciência acadêmica. Esses historiadores, ao conceberem seus métodos e teorias para a nova ciência, os definiram a partir de suas próprias perspectivas de mundo, que consideravam a Europa e suas influências históricas mais próximas como referências para as suas divisões temporais. E isso é o que chamamos de herança eurocêntrica na historiografia.

Mais sobre Pré-história

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História, a ciência do homem no tempo! https://historiaeatualidades.com.br/2021/06/06/historia-ciencia-homem-no-tempo/ https://historiaeatualidades.com.br/2021/06/06/historia-ciencia-homem-no-tempo/#comments Sun, 06 Jun 2021 21:13:55 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=10539 O que é a História, para que serve e por que nos ocupamos tanto com ela? A palavra História vem do Grego antigo (ἱστορία), que quer dizer “pesquisa”, ou “conhecimento que vem da investigação”. Em português, ela é uma palavra polissêmica, que possui dois sentidos. Quando escrita com “h” minúsculo, “história” refere-se ao conjunto das experiências humanas ao longo do tempo. Ao passo que “História“, escrita com “H” maiúsculo, quer dizer o estudo dessas experiências, a pesquisa e a investigação das ações humanas. É o que chamamos, habitualmente, também de “historiografia“, ou seja, a escrita da história.

É comum, ao falarmos em história, remetermos-nos automaticamente ao passado. Afinal, conforme o senso cumum, história é tudo aquilo que já passou. Mas não é bem assim! A História, com H maiúsculo, ou seja, a ciência que estuda as ações do homem no tempo, desde há muito, ocupa-se, também, das questões do presente. Aliás, Marc Bloch, um grande historiador francês, dizia que é do presente que o historiador deve tirar as suas grandes indagações. Ou seja, aquele que pretente estudar a história, deve partir das questões do seu próprio tempo para, então, perscrutar o passado. Pois, sem essa perspectiva, a historiografia, ou escrita da história, tende a tornar-se uma mera coletânea de fatos passados, de valor pouco significativo para o homem.

Por isso, simplesmente, não podemos dizer que História é a apenas a “ciência que estuda o passado do homem”, mas sim, que é a “ciência que estuda o homem no tempo”. Pode parecer que não há diferença entre uma e outra dessas sentenças, mas há! A História estuda o homem em uma perspectiva temporal, seja ela no presente, ou no passado.

O objeto de estudos da História

Disso, podemos, ainda, tirar outra importante conclusão sobre a História e o que de fato ela é. E isso diz respeito ao seu objeto de estudos: o homem. Se não há estudo sobre o homem, não estamos falando propriamente sobre História. Os geólogos, por exemplo, também estudam o passado e o presente, mas das rochas, não dos homens. O mesmo acontece com a Botânica, que também estuda o passado e o presente, mas das plantas.

Assim, nem aos estudos de Botânica e nem aos de Geologia, podemos chamar de estudos históricos, pois nenhum deles tem por objeto de pesquisa o homem e seus vestígios. E isso é o que diferencia um botânico de um historiador da Numismática, por exemplo. A Numismática é um ramo da historiografia que estuda moedas antigas. Como sabemos, o dinheiro é um produto essencialmente humano, logo, todos os vestígios que dele advém, são frutos da ação humana. Estudar Numismática, por consequência, é uma atividade do historiador por excelência, assim como acontece com outros ramos e segmentos da ciência História.

As origens, com Heródoto de Halicarnasso

A História é quase tão antiga quanto o pensamento ocidental. Heródoto de Halicarnasso, um grego antigo, que viveu no século V a.C, herda o título de “pai da História”. Isso porque foi ele o primeiro homem a se preocupar em construir narrativas para que a memória de um povo não fosse esquecida. Antes dele, era comum que reis e monarcas encomendassem registros de seu tempo e de seus feitos. Mas, Heródoto teve a primazia de fazer esses registros abitrariamente, conforme seu próprio juízo de valor, e deixou um longa coletânea de textos, cujos fragmentos chegaram aos dias de hoje, organizados e catalogados simplesmente como “Histórias”.

Embora longa a sua trajetória, como ciência, somente no século XIX a História ganhou seus primeiros contornos. Foi a partir desse momento que historiadores profissionais passaram a se preocupar com uma teoria e com métodos que a aproximasse de uma disciplina científica. Dessa forma, o século XIX marca a entrada da História no meio acadêmico, assim como o seu debate com outras ciências sociais, também emergentes. Principalmente, a Sociologia.

Tempo e periodizações

Para um historiador, o tempo funciona como seu laboratório de pesquisa. Ele o recorta, analisa, e o organiza, conforme a sua perceção de mundo. Tradicionalmente, e o que ainda é o mais comum em nossos livros didáticos, a história está dividida em quatro grandes períodos: História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. Essa periodização tradicional, arraigada, sobretudo, nos métodos didáticos, evidencia uma forte visão eurocêntrica da História no Brasil, já que cada um desses períodos, refere-se, especificamente, a contextos da história da Europa. E isso, em parte, é fruto da herança colonial que carregamos, onde ocupa o papel central, a historia do colonizador.

Essa periodização, para além dos motivos já citados, é ainda contestada pela historiografia moderna por alguns outros fatores como, por exemplo, a ênfase que dá ao documento escrito. Ao definir o início da história a partir da invenção da escrita, essa perspectiva exclui uma significativa parte do passado humano, como se esse não fosse tão digno de “história”, relegando-o à uma condição secundária de “pré-história”. Tal concepção remonta aos primórdios da História como ciência, já que nesses primeiros momentos, os historiadores desprezavam na pesquisa historiográfica, qualquer outra fonte que não fosse documentos oficias, sobretudo, os escritos, tais como bulas papais, éditos ou decretos reais. Logo, o tempo em que o homem ainda não dominava a escrita, não poderia ser considerado como parte da história, mas sim como a sua pré-história.

História hoje

Com o surgimento do movimento dos Annales, no início do século XX, na França, a História, enquanto ciência, ganhou nova cara, novas cores e novos tons! O grupo de historiadores dos Annales teve o mérito de aproximar a História de outras ciências sociais, como a sociologia e antropologia. Incorporou novos métodos, diversificou fontes e estabeleceu novas teorias, que resultaram em uma perspectiva completamente nova para a ciência historiográfica. Isso resultou em uma gama expressivamente grande de campos, que agora o historiador poderia investigar, tais como a vida cotidiana de pessoas comuns, as mentalidades e hábitos sociais.

Com a História Cultural, que ganhou força a partir da terceira geração de historiadores alinhados à escola dos Annales, em fins do século passado houve uma verdadeira proliferação de pesquisas historiográficas, explorando os mais diversos assuntos. A História tornou-se amplamente difundida, rompendo o círculo acadêmico e ocupando espaços que a aproximaram do grande público. Em 1976, Carlos Ginzburg, historiador italiano, publicou um livro que se tornaria íconico para nova geração de historiadores, intitulado o “Queijo e os vermes”, que trata da vida de um homem comum, na Idade Média, acusado de heresia contra a Igreja Católica. O personagem do livro era um moleiro, analfabeto, que ousou pensar contrário ao dogma cristão. Com a obra de Ginzburg, estava selado: há muito, a História não era mais apenas a história de uma parcela da sociedade. Ela, agora, poderia expandir-se para ser a história de tudo!

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Transição da Monarquia para a República na Roma antiga https://historiaeatualidades.com.br/2021/05/15/roma-antiga-periodo-monarquico/ https://historiaeatualidades.com.br/2021/05/15/roma-antiga-periodo-monarquico/#respond Sat, 15 May 2021 21:39:02 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=9980 Durante os dois primeiros séculos da fundação de Roma, a cidade foi governada por um sistema de governo monárquico. Esse período é denominado de Realeza, ou Monarquia, e vai de 509 à 753 a.C. Durante a Monarquia, Roma teve sete reis. Os quatro primeiros eram de origem latina e sabina: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio e Anco Márcio. A partir do reinado de Anco Marco, a cidade caiu sob domínio etrusco, sendo governada por Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo. Os reis etrusco governaram Roma despoticamente, aboliram o Senado e restringiram o poder dos patrícios. Sob o reinado de Tarquínio, o Soberbo, uma revolução abalou as bases da Monarquia, expulsou os etruscos e instaurou a República. Com o início da República, consolida-se o domínio latino na região do Lácio, e Roma inicia o seu processo de expansão e conquista da península Itálica.

Por que Roma tornou-se uma República?

A república romana emergiu de uma uma revolta de patrícios contra o último rei etrusco que governou a cidade, Tarquínio, o Soberbo. O estopim para a revolta, adveio de um fato insólito, que envolve o estupro de Lucrécia, filha de uma influente família de patrícios romanos, por Sexto Tarquínio, filho do Soberbo. O fato revoltou a classe de patrícios, que rebelou-se contra o governo, pondo fim ao reinado etrusco em Roma, instaurando a República. A revolta foi liderada por Lúcio Júnio Brutus, sob o argumento de que no sistema de governo monárquico o poder é centralizado nas mãos de um único homem, o que levava, inevitavelmente aos excessos e à tirania.

Não há comprovações históricas sobre tais fatos, pois parte da história romana desse período tem, unicamente, por fonte, lendas que subsitiram ao tempo. A historiografica moderna, no entanto, reconhece, que desde o início do período monárquico, houve uma intensa disputa de poderes, entre a classe alta de Roma, formada por patrícios, e o poder central, emnado do rei. Esta tensão culminou na revolta, em fins do século VI, que pôs fim, definitivamente, ao regime monárquico.

Em resumo

Roma, desde sua fundação, foi uma monarquia. Este período vai de 753 à 509 a.C, quando uma revolta de patrícios instaurou a República. O estopim da revolta patrícia, foi o estupro de Lucrécia, filha de uma influente família romana, por Sexto Tarquínio, filho de Tarquínio, o Soberbo, último rei a governar a cidade. Durante a Monarquia, Roma foi governada por sete reis, sendo quatro deles latinos e sabinos, e os últimos três de origem etrusca. O reinado dos reis etruscos, indicam um possível domínio da Etrúria sobre Roma, no último período da monarquia.

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O que diz a lenda de Rômulo e Remo sobre a fundação de Roma? https://historiaeatualidades.com.br/2021/05/02/a-lenda-de-romulo-e-remo-e-a-fundacao-de-roma/ https://historiaeatualidades.com.br/2021/05/02/a-lenda-de-romulo-e-remo-e-a-fundacao-de-roma/#respond Sun, 02 May 2021 21:17:39 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=9761 A fundação de Roma está envolta em uma lenda que narra a história de Rômulo e Remo, dois irmãos gêmeos, que ao nascer, foram lançados às águas do rio Tibre por seu tio-avô Amúlio. Conta, a lenda, que Amúlio havia usurpado o trono de Alba Longa de seu irmão Numitor e, ao tentar afogar os gêmeos, pretendia livrar-se dos herdeiros legítimos do trono usurpado. Essa narrativa mítica, em parte, substitui dados históricos sobre as origens de Roma, uma vez que este período específico da história romana é carente de fontes históricas. Nesta publicação, vamos conhecer importantes aspectos da lenda de Rômulo e Remo, assim como, analisar, a partir do ponto de vista histórico, as circunstâncias da fundação da cidade.

A lenda de Rômulo e Remo e a fundação de Roma

Lupa Capitolina – Rômulo e Remo amamentados por uma loba

Narra a lenda que a cidade de Roma foi fundada por dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, que seriam descendentes de Eneas, herói da Guerra de Troia. Eneas teria abrigado-se na península Itálica após a derrota para os gregos e dado origem ao povoado de Alba Longa. Em determinado momento da história, surgem as figuras de Amúlio e Numitor. Este último tornou-se rei de Alba Longa, e teve seu trono usurpado pelo irmão, Amúlio. Ao usurpar o trono, Amúlio aprisionou Rea Silvia, filha de Numitor, e obrigou-a a servir como vestal em seu palácio, para que fosse mantida casta. Assim, esperava Amúlio, não haver herdeiros que pudessem reivindicar o trono no futuro. Rea, no entanto, foi desposada por Marte, deus da guerra, e trouxe à luz Rômulo e Remo.

Para livrar-se dos legítimos herdeiros, Amúlio os acomdou em um cesto e os lançou às águas do rio Tibre, na esperança de não voltar a vê-los. Mas, à altura do monte Palatino, o cesto encalhou e os dois gêmeos foram resgatados e amamentados por uma loba, sendo, posteriormente, cuidados por camponeses locais. Na fase adulta, ao descobrirem suas origens, os gêmeos retornaram à Alba Longa, justiçaram Numitor, que era seu avô, com a morte de Amúlio, e lhe restituíram o trono. Em seguida, voltaram ao local onde foram resgatados e fundaram a cidade de Roma.

Conta a lenda, ainda, que em um acesso de ira, quando discutiam sobre as demarcações de Roma, Rômulo matou Remo, após este cruzar as linhas que havia traçado para fundação da cidade. Com a morte de Remo, Rômulo se tornou o primeiro rei de Roma e governou a cidade por um período razoavelmente longo. No fim de sua vida, Rômulo desapareceu em uma tempestade, em circunstâncias misteriosas, e foi sucedido por Numa Pompílio.

Aspectos históricos da fundação de Roma

Uma lenda não guarda, necessariamente, relação direta com fatos reais, e assim, acontece com a lenda de Rômulo e Remo, que narra a história da fundação de Roma a partir de uma visão mítica. Mesmo assim, a lenda é importante, porque nos ajuda a entender como os romanos concebiam a sí próprios e à sua história. A lenda remete as origens da cidade à uma tradição de herois, e estrutura sua narrativa assentada em atos de heroismo e bravura, que é como os romanos desejavam ver a sí mesmo.

Historicamente, sabe-se que Roma, em seus primórdios, não passava de um vilarejo bastante acanhado, situado às margens do rio Tibre, cujos habitantes habitavam palhoças. A cidade desenvolveu-se a partir de dispustas territoriais contra os Etruscos, povo que habitava a região ao norte do Lácio, e cuja civilização era bem mais desenvolvida que a dos latinos, os povos que fundaram Roma. A sua localização inicial, possivelmente, foi um posto militar, criado para conter o avanço etrusco na região. Sobre este período, há poucas fontes escritas, pois os latinos ainda deixaram registros escritos, e a escrita etruscas, até os dias de hoje, não pode ser decifrada.

É sabido que, por volta do século VIII a.C os latinos dominaram a região do Lácio, vizinha à Etrúria, e ali lançaram as bases da fundação da cidade. O ano de 753 a.C, é tido como o marco inicial de Roma, quando tem início o período denominado de Realeza, ou Monarquia Romana. Esse período teve duração de aproximadamente dois séculos e teve fim em 509 a.C, quando um revolução pôs fim à Monarquia e instaurou a República. Foi durante o período repúblicano que Roma expandiu e conquistou a maior parte de seu território, cujas conquistas foram consolidadas durante o período Imperial, que durou de 27 a.C ao século V. A partir dai, abalado por crises internas, o Império Romano do Ocidente ruiu ante as invasões do povos bárbaros, que culminaram em 476 a.C, com a deposição do último imperador romano do ocidente.

Quem eram os romanos?

O termo “romano” só veio a se tornar corrente, após a fundação da cidade de Roma. Até então, os povos que habitavam a penísula Itálica, eram denomiados italiotas ou itálicos, além dos gregos e etruscos. Os italiotas eram formados por tribos diversas, cujos troncos principais eram os latinos, os sabinos, os samitas e os úmbrios. Essas tribos adentraram a península Itálica por volta do segundo milênios antes de Cristo e eram oriundos da Europa oriental. A origem dos povos etruscos é bastante obscura, devido à escassez de fontes, mas sabe-se que ocupavam a região próxima ao Lácio, pelo menos mil anos antes da chegada dos latinos. Os gregos, por sua vez, haviam adentrado à região a partir da ilha de Sicilia, localizada ao sul da península, separada apenas por uma estreita faixa do mar Mediterrâneo.

Slide 2 – Distribuição dos povos Etruscos, Italiotas e Gregos na península Itálica.

Localização espaço-geográfico da península Itálica e de Roma

Roma está situada na parte central da península Itálica, próxima ao mar Tirreno. Atualmente, a península abriga os Estados modernos da Itália, San Marino e Vaticano. A península Itálica estende-se por sobre o mar Mediterrâneo, em um formato parecido ao de uma bota. É ladeada, ao oeste pelo mar Tirreno, onde situam-se as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília, e a leste pelo mar Adriático. Ao sul seus limites são dados pelo mar Jônico, e ao norte, pelas cordilheiras dos Alpes. Foi nessa singular região, ao sul da Europa, que Roma cresceu, desenvolveu-se, e em poucos séculos, dominou praticamente todo o Mediterrâneo, formando o mais importante império da Antiguidade, exercendo domínio cultural e econômico sobre diversos outros povos da região.

Slide 1 – Península Itálica em um mapa atual – Fonte: Google Maps
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Quem construiu as pirâmides do Egito? https://historiaeatualidades.com.br/2020/08/04/quem-construiu-as-piramides-do-egito/ https://historiaeatualidades.com.br/2020/08/04/quem-construiu-as-piramides-do-egito/#respond Tue, 04 Aug 2020 11:00:00 +0000 https://richardabreu.com.br/?p=5082 As pirâmides do Egito são construções milenares, que parecem ter sido uma obsessão para os egípcios antigos. As mais famosas são as pirâmides de Gizé, assim chamadas por situarem-se no platô de Gizé, próximas à atual cidade do Cairo. Muito comuns em cartões postais, e principal atração para os milhares de turistas que visitam o Egito anualmente, foram construídas durante o Primeiro Império (3.200 à 2.100 a.C), durante o governo dos faraós Queóps, Quefren e Miquerinos. Embora sejam as mais famosas, não foram as primeiras, nem as únicas construções em formato piramidal do Egito antigo. Séculos antes, o faraó Djoser, que governou entre 2667 a.C. a 2648 a.C., construiu a primeira pirâmide do Egito. Idealizada por seu arquiteto e mestre de obras, Imhothep, é chamada de Pirâmide de Sacará ou Pirâmide de Degrau.

Elson Musk sobre as pirâmides

Na semana passada (31/07) um “twitte” do multimilionário Elon Musk provocou uma confusão na Internet ao afirmar que as pirâmides do Egito foram construídas por extraterrestres. Este não é um assunto novo, apesar de não ter nenhum crédito no meio acadêmico. Mas vindo de alguém engajado em pesquisas espaciais que pretendem levar o homem a Marte, não poderia passar despercebido. Em sua rede social, Musk afirmou: “Aliens built the pyramids obv“. Em traduação literal: “Alienígenas construíram as pirâmides, óbvio”. Você concorda, ou pelo menos acha plausível algo assim?

Claro que não há embasamento científico na afirmação de Elon Musk. Mas pela sua relevância no cenário internacional de exploração espacial, as suas palavras ganharam enorme repercussão. Tanto, a ponto de serem prontamente respondidas pela ministra de cooperação internacional do Egito, Rania al-Mashat. A ministra não só rechaçou a afirmação de Musk, como também o convidou a conhecer de perto as construções milenares. Segundo ela, isso ajudaria o multimilionário a compreender melhor o esforço humano de construção daquelas monumentais obras.

Rania al-Mashat não foi a única a responder Elon Musk. O arqueólogo egípcio Zahi Hawass, que há anos estuda as pirâmides do Egito, também o rebateu o magnata. Por meio de um vídeo publicado em suas redes sociais, afirmou que os argumentos de Musk são apenas uma “completa alucinação”.

Por que a fala de Musk causou tanta polêmica?

Antes de tudo por que para a academia, as pirâmides do Egito são frutos do gênio humano. Boa parte dos historiadores, inclusive, as consideram como resultado do labor de homens e mulheres que se viram forçados a trabalhar em suas construções, em condições degradantes e precárias. Associar, portanto, a construção dessas obras monumentais à uma hipótese sem qualquer embasamento científico, seria uma incorreção histórica, além de tirar o mérito de homens e mulheres que deram sangue e suor em sua realização. A questão, no entanto, é bastante polêmica. Pois se não há qualquer evidência de que extraterrestes construíram as pirâmides, tão pouco se sabe com exatidão que tipo de tecnologia foi usada para erguer as gigantescas pedras que as compõem.

Voltando a Elon Musk

Se a afirmação de Musk tivesse sido feita por qualquer um de nós, entre os mortais, certamente não teria tanta repercussão. Mas Elon Musk tem ganhado notoriedade no cenário internacional, não só como dono de uma das maiores fortunas do mundo, mas pela sua proeminte participação na atual onda de exploração espacial. A sua nave, a SpaceX, pousou no oceano Atlântico, no Golfo do México, trazendo a bordo dois astronautas norte-americanos diretamente da Estação Espacial Internacional, a ISS, apenas dois dias antes de sua polêmica publicação no Twitter. E, atualmente, as empresas do multimilinário vêm trabalhando em parceria com a NASA para construir um foquete que levará o homem à uma fascinante jornada à Marte até o ano 2030.

Para quem quem tem interesse pelo assunto e quer se divertir com um bom entretenimento, pode assistir sem medo de arrependimento a série Mars. Produzida pela pela National Geographic e lançada em 2016 pela Netflix, a série explora, ficcionalmente, a aventura do homem chegando ao planeta vermelho, inspirada no projeto impulsionado por Elon Musk.

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